O coração é meio bobo. Nada de novo até aí, a
novidade é que eu demorei pra perceber isso. Não é uma questão de apaixonar-se
ou não, de amar ou não, mas de entender todo o enredo e como a trama se
desenrola. Antes de tudo, surge o interesse por alguém; e muitas vezes não há
uma explicação muito clara do porque isso ocorre. As coisas podem até acontecer
rápidas como um meteoro e causar o mesmo estrago ocasionado pelo seu impacto. Mas
agora esse não é o caso...
Tem horas em que as coisas tardam a
acontecer, é quando o interesse surge desprovido da coragem, quando a simples
intenção de se aproximar da pessoa parece ser algo sem sentido para aquele
momento. Deixamos esse interesse de lado, como se fosse realmente possível
negligenciá-lo. Nesse meio tempo passamos por muitos meteoros que causam uma
tremenda destruição e, a partir daí, voltamos novamente o olhar para aquela
pessoa que há algum tempo despertou algo que decidimos um dia ignorar. Azar o
nosso – ou não –, porque a vida nos faz voltar exatamente ao mesmo ponto quando
deixamos algo por resolver, mesmo que nada tenha de fato acontecido. O
importante para a vida é que houve um interesse, uma intenção, e isso cria um
vínculo, ainda que seja imperceptível.
E a vida, essa fanfarrona, sempre nos coloca em
situações inesperadas, fazendo com que nos aproximemos daquela pessoa e
passemos a olhá-la mais atentamente. Nesse instante, quando o adormecido
interesse desperta sorrateiramente, passamos a notar as razões por termos um
dia olhado de maneira diferente para esse alguém: virtudes, similitudes,
atitudes que prezamos, enfim... Tudo passa a fazer sentido e costumamos nos
perguntar: “Por que eu não percebi isso antes?”. Simples: porque nós não
quisemos prestar atenção! Fatos são fatos e eles não mudam com o tempo, apenas
não nos damos conta deles.
Em geral, até hoje acabei me envolvendo com
pessoas muito diferentes de mim, talvez porque seja mais fácil nota-las, ou
porque talvez eu seja estúpido mesmo. Engraçado é o fato de que é realmente mais
difícil notar quem nutre pensamentos e atitudes mais parecidas às nossas; fica
mais fácil notar o que é diferente e é menos evidente notar o que é parecido.
Eu só não sei ainda o porquê.
Mas aí ela aparece e dá aquele sorriso lindo, e
você pensa: “Que merda, eu preciso me controlar.”, mas foi a vida que colocou
você ali novamente, do lado daquela pessoa com quem você nunca teve nada,
exceto um interesse que você nem sabe se era mútuo. E analisando bem, ela
realmente tem um algo a mais que faz você se sentir um idiota e perder a
coragem novamente, o que não aconteceria com outra pessoa. E tudo se torna bem
difícil quando você tem que ficar ao lado dela, bem próximo, vendo-a mexer no
cabelo de um jeito diferente, sentindo o seu cheiro, percebendo os seus olhares
e gestos graciosos e ficando completamente vendido quando ela coloca as duas
mãos no rosto logo depois de apertar os olhos e lançar um sorriso despretensioso
ao dizer um “Aiiii! Eu não sei.” de um jeito tão manhoso que quebra as suas
pernas em mil partes e o faz querer pegá-la no colo.
Até aqui, nada de coração. Estou naquela fase em
que controlo o enredo para evitar que a trama se desenrole mais rápida do que o
necessário, e para não criar expectativas tolas sobre algo que eu nem sei se
vai realmente acontecer. É uma tentativa de evitar que o coração fique bobo por
alguém que nem sei se merece isso; é um momento que eu estou me dando para
reconhecer se vale a pena seguir em frente ou se devo simplesmente esquecer e
encerrar de vez o assunto.
Como a vida não me deixa outra escolha, eu farei
aquilo que ela me propõe: olhar com cuidado esse alguém para então ponderar e
decidir o que fazer; nunca negligenciar. E assim tudo segue o seu caminho: cada
coisa ao seu tempo e tudo no seu devido lugar.